Frase sobre a Educação

"Carregamos conosco a memória de muitas tramas, o corpo molhado de nossa história, de nossa cultura"
Paulo Freire - Pedagogia da Esperança

15 outubro 2012

A História de Josenildo no PROEJA

A história a seguir foi escrita pelo educando Josenildo, que atualmente frequenta o quarto módulo do curso técnico de PROEJA em Eletromecânica do Campus Chapecó. É uma história emocionante de superação e de amor pela escola e pelos estudos, este últimos um dia abandonados pelas circunstâncias da vida. Vale a pena ler! 


A minha história no PROEJA

    Quando o antigo CEFET veio se instalar em Chapecó com todos os seus cursos, um dos cursos que me chamou a atenção foi o de Eletromecânica, porque eu já sou mecânico há um bom tempo e sempre quis aprender um pouco mais sobre a Eletricidade ou energia. Tentei conversar com a minha esposa da época que eu iria voltar a estudar.
    Eu via uma grande oportunidade de fazer o segundo grau e ter um curso que iria me ajudar muito, tanto na área profissional, como na parte financeira como eu já era mecânico eu teria a oportunidade de acrescentar na minha vida profissional mais duas profissões que seria a de técnico em Eletromecânica. Tentei de todas as formas convencer minha então esposa a fazer este curso.
    Mas não teve jeito, na cabeça dela, um homem da minha idade voltar a estudar era uma forma de poder dar uma escapada. Para ela, muitos homens usavam a desculpa de estudar à noite só para trair as esposas. Ela não queria, dizia que o que eu sabia estava bom demais.
    Diante da situação eu já estava cansado com ela há dez anos, já tinha uma filha linda que é a minha vida e hoje é uma das que mais me incentiva para continuar estudando.
    O tempo foi passando e a relação foi se desgastando, não só por este motivo, mas outros que foram aparecendo até chegar ao ponto da separação. Meio atordoado com a separação, eu nem pensei em voltar a estudar. Mas na empresa que eu trabalhava eu tinha um chefe que queria que eu voltasse a estudar, a fazer o 2º grau para me aperfeiçoar mais na minha função. Todo curso que aparecia na empresa eu era o primeiro da lista.
Isto foi logo que me separei, o meu chefe, O Sr. José Wagner Pinto me inscreveu no IF-SC, antigo CEFET, para eu fazer um curso de Manutenção Mecânica, numa parceria entre a empresa e a instituição, com duração de oito meses. Durante estes oito meses fui conhecendo a instituição, os professores e como funcionava tudo.    Neste meio tempo, encontrei uma outra mulher com quem me casei. Esta sempre me apoiava em todas as minhas decisões até de voltar a estudar. Durante este curso de Manutenção Mecânica, tive a oportunidade de me inscrever no PROEJA para poder realizar mais este sonho de voltar a estudar. Quando eu ganhei o panfleto com as explicações sobre este curso pelo programa PROEJA fiquei muito feliz e fui correndo mostrar para meu chefe Wagner e pedir para ele fazer minha inscrição, que só podia ser feita pela internet e eu não tinha acesso à net.
    Ele ficou muito feliz com a minha atitude e, mais que depressa, lá mesmo na empresa, no horário de serviço, ele me chamou para fazê-la. Foi muito fácil e rápido, mas eu tinha que esperar alguns dias para o dia do sorteio.
    No dia do sorteio o Wagner me lembrava a cada pouco que a hora do sorteio estava chegando. Eu já estava nervoso, ansioso e muito tenso. Quando foi às 19h00min que abriu os portões da faculdade eu já estava lá tremendo de nervoso, mas o que me consolava é que era um sorteio e com tanta gente torcendo por mim eu ia ser sorteado, mas o que eu não sabia era que para 32 vagas tinha mais de 400 candidatos. Aí aumentou o nervosismo, cada número chamado, que não era o meu, parecia que o coração ia sair pela boca, mas quando chamaram o vigésimo quinto foi a hora do meu grito! “Estou aqui!” Mas foi tão forte que chamou a atenção de todos.
    Aí foi só felicidade, foi providenciada toda a documentação que precisava para fazer a matrícula e contar ansiosamente os dias para o início das aulas.
    Uma coisa que não vou esquecer foi a primeira aula no PROEJA, a apresentação dos professores e de nós alunos. Nós fomos muito bem recebidos pelos professores com muito carinho e atenção. Eu, em particular, parecia um filho quando passa muito tempo fora de casa.
    A impressão era que nós estávamos perdidos e eles os professores tinham nos resgatados de volta para nossa casa, que é nossa escola, eu tenho como minha casa. Eu chego ter saudades quando é época de férias ou quando estão em greve, é tão triste ficar sem estudar, mas fazer o quê? Faz parte do sistema.
    É muito grande a força de vontade dos professores que nos ensinam. Eu fico triste, mas eles têm que lutar pelos seus direitos.
    Para mim, tudo era novidade, dez professores para o nosso primeiro semestre, eu nunca tinha tido tanto aprendizado em tão pouco tempo. Eu não tenho nada a reclamar do Instituto e nem dos professores ou da forma de ensino e, sim, só a agradecer por ter existido o PROEJA, que me devolveu aos 42 anos a possibilidade de voltar a estudar, voltar a me sentir gente produtiva, mais forte, mais consciente do que quero, do que vou ser no futuro bem próximo.
    Eu vou fazer o 2º grau, o que vai me ajuda a ter uma gratificação profissional, mas com o curso técnico do IF-SC no programa PROEJA, vou melhorar muito a minha vida, tanto profissional como a financeira, e a minha autoestima.
    Hoje estou no III módulo do curso, com muita esperança que vou para o IV módulo, passei muitas dificuldades, muitas mesmo, vou citar uma delas:
    Há alguns meses atrás, eu fiquei desempregado nove meses sem trabalhar, encontrei vários trabalhos na minha função, mas todos os que eu encontrava eu tinha que viajar e ficar muitos dias fora. E eu teria que trancar o curso. Mas isso era tudo que eu não queria, era parar de estudar. Acabou o dinheiro do acerto e das contas, eu passei necessidade, faltou dinheiro para tudo.
    Eu recebi muita ajuda da minha esposa atual, ela que me ajudou com todas as contas e com o que eu precisava e foi muito importante na parte psicológica, tive também a ajuda dos professores. Um dos professores me ajudou financeiramente quando soube da minha situação, outro teve a ideia de comprar uma máquina de cortar grama com extensão e outras ferramentas de jardinagem para eu poder fazer os serviços de jardinagem e ir me mantendo até eu conseguir encontrar um emprego que não atrapalhasse meus estudos. Mas graças a Deus, hoje estou trabalhando em uma empresa, só no horário comercial e dá pra eu continuar estudando. Mas para mim, cada obstáculo ou dificuldade que passo, eu fico mais forte, tenho mais certeza que estou fazendo a coisa certa porque a única coisa que é realmente nossa é o que aprendemos, isto ninguém pode tirar de nós, palavras do nosso sábio-guru.
    Hoje só tenho a agradecer aos meus professores, minha atual esposa que me apoia sempre e minha filha, que está sempre me cobrando. Estou muito feliz por estar fazendo parte de uma turma bem qualificada e dedicada com os alunos e pelo programa PROEJA.
   
    O sol nasce para todos!
Josenildo
Chapecó-SC, setembro de 2012.



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